A revista Época, em sua edição de Nº 490, de outubro de 2007, trouxe diversas seções nas quais tratou do tema da gestão pública. Essa mesma temática pode ser encontrada estampada nas páginas de todas as outras grandes revistas e jornais do país, que tratam a questão de forma muito semelhante..
As “semelhanças” no posicionamento destes veículos em relação às questões tratadas não são casuais, pelo contrário elas têm orientação e propósitos muito claros. Apesar da diferença que possa existir entre um veículo e outro, temos alguns aspectos sobre os quais se erguem os discursos de crítica ao modelo de gestão estatal no Brasil. Segundo o discurso da mídia, e de seus “especialistas”, que têm em comum serem defensores do capitalismo e das políticas neoliberais, o estado brasileiro é lento e ineficiente, diferente do mercado que é ágil e eficiente. Portanto, para o país se desenvolver, na perspectiva neoliberal de desenvolvimento, é necessário que o estado se “retire” de algumas áreas cujo mercado tem interesse de ocupar, e que também passe por um “choque de gestão”, que implica a sua redução, para que ele possa ficar mais ágil. Mas não basta só reduzir, é necessário o estabelecimento de metas de produtividade, que possibilitem a otimização do estado a partir do “capital humano” existente.
Um exemplo dado pela revista Época de caso bem sucedido é o da privatização da companhia Vale do Rio Doce, que foi vendida por US$ 10,4 bilhões, em 1997, e que dez anos depois, misteriosamente, foi avaliada em cerca de US$ 150 bilhões. Vale lembrar que cambio está hoje sob outras regras.
Essa campanha da “eficiência” e dos “benefícios” trazidos com a privatização da Vale surge justamente quando diversos movimentos sociais organizam várias iniciativas para contestar o processo de privatização da empresa, que foi vendida por um valor inferior ao que valia na época. Mais uma vez, vemos a “neutralidade da mídia”, expressa na sua defesa do projeto de modernização capitalista, que na contemporaneidade assume a feição neoliberal.
O discurso único dos meios de comunicação nos serve como indicativo de que a mídia não é neutra, apesar de quererem nos dizer isso. Ela defende um projeto, que é o da burguesia. Por isso, tanta preocupação com a campanha “A Vale é Nossa!”, tanta preocupação com as idéias socialistas, e a esquerda.
Apesar da morte de Hitler e Mussolini encontramos viva a chama do fascismo, que nas páginas destes veículos de comunicação, reproduzem o discurso de perseguição e condenação ao ideário socialista. Na mesma edição da Época, já citada, o colunista Gustavo Franco afirma que “o capitalismo venceu, e o socialismo foi uma catástrofe, ao contrário do que dizem os livros didáticos que o governo distribui.” [1] para estes “especialistas neutros” a história chegou ao fim, como defendia Francis Fukuyama, e o capitalismo é a única e melhor saída para a humanidade.
Esta perseguição aos socialistas se intensifica, em tempos em que os trabalhadores desempregados se multiplicam em proporções cada vez maiores, e em que as condições de trabalho se tornam cada vez mais precárias. De onde resultam essas condições se não da própria modernidade capitalista.
Apesar de quererem naturalizar a existência do capitalismo, e de perseguirem os socialistas, há levantes populares em várias partes do mundo, o socialismo vive no coração e nas mentes de milhões de homens e mulheres. Enquanto existir desigualdade no mundo os trabalhadores estarão construindo seus instrumentos de organização, e sua proposta para a humanidade.
Para a burguesia não basta prender, matar os trabalhadores descartáveis, que não cabem no mundo produtivo do capital, é preciso destruir os sonhos de emancipação da classe trabalhadora.
Por isso, os livros de Mário Schmidt incomodam tanto, por isso educação do MST, assim como a sua luta é um problema para a burguesia. Enquanto isso, oito páginas da mesma edição louvam o programa de Educação da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
[1] Nessa passagem o autor faz referência aos livros didáticos da coleção Nova história Crítica, escritos pelo historiador fluminense Mário Schmidt)
Mardonio Barros(MST/Observatório da Indústria Cultural)
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