Hoje ao fim de um dia de trabalho, depois de ir de um lado para outro da cidade, “terminei”, por assim dizer, minha peregrinação por Fortaleza. Parei em uma livraria para procurar uns livros, e tomar café. Encontrei um livro que há muito tempo queria ter novamente, um livro do cronista João do Rio chamado: “A Alma Encantadora das Ruas”. Em um dos textos, bem no início do livro, o autor fala sobre nossa paixão pela rua. Digo nossa, dos humanos que nos encontramos na rua, que através dela chegamos aos muitos destinos, e que a ocupamos de múltiplas formas e sentidos.
A leitura do livro transportou-me para muitos lugares, e me fez pensar nos meus últimos trajetos. Em minhas peregrinações. Primeiro, lembrei de como a rua é o lugar do público, da vida que está fora da casa, e de como a rua tem se tornado o lugar do medo, do cansaço e das dificuldades. Não serei de todo pessimista sobre os “novos” sentidos das ruas, pois assim como João do Rio, amo-a, e acredito em seu papel humanizador.
A rua é o lugar de passagem, que divide os espaços da cidade, ao mesmo instante que nos faz ficar ligados através dela. Sempre que posso, eu saio flanando, sem destino, meio vadeando, meio refletindo sobre a vida e sobre o mundo. É andando, e percorrendo os caminhos que consigo perceber as contradições que se externalizam na rua. É no contato com o mundo que posso sentir-me mais humano, e mais participante da vida.
Vivemos no mundo das sensações, no mundo da imagem, dos sentidos, dos desejos, mesmo que estes últimos em alguma medida tenham sido encapsulados pela lógica do consumo imprimida pelo mundo do capital.
Nos caminhos de Fortaleza, podemos ver milhares de pessoas em situação de rua, que expressam a miséria. Vemos ruas sujas, que não acolhem os transeuntes. Temos ruas vivas, e ruas mortas. Ruas feridas pela miséria humana, pelo descaso com a vida, pelo pouco cuidado com o direito a beleza, e a esperança. As ruas de Fortaleza são lugares onde a contradição se mostra, onde a vida caninha sem esperança, e de cabeça baixa.
É preciso reagir, para resgatar a vida que pulsa nas ruas e nos corações dos que nelas transitam. Pois só assim, conseguiremos vencer o medo, a miséria, os buracos, a brutalidade cotidiana das relações que estabelecemos uns com os outros. É preciso encher as ruas de gente, que passeiem por elas, e que nelas se apaixonem umas pelas outras. E que nossa paixão pelas ruas, e pela vida possa dar novos nomes e sentidos as ruas onde nossos passos são dados.
por Mardonio Barros
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