quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Bacantes



Acredito no que vejo, e não vejo o que acredito. Poderia resumir nessa expressão a imagem apreendida no espetáculo “Bacantes”, entretanto não acreditamos que um fenômeno tão complexo, uma performance tão espiralada possa ser explicada por imagem tão simplificada.


Não gosto do Teatro Oficina, não gosto do que conheço(mais uma simplificação, pois são muitas obras e montagens), mas entendo seu papel, sua proposta e acho que produz ua experiência intensa de textura espessa . Em Bacantes a dualidade entre o mundo limpo e claro de Apolo e o mundo da orgia, farras e do sexo de Dionísio ganham vida. As simplificações estão na base dos mitos, e as religiões utilizam-nas em larga escala, nesse sentido a dualidade, o maniqueísmo são armas potente na manutenção da ordem, ou na instauração do caos. Os mundos claros e escuros são parte da mesma totalidade. Apolo e Dionísio são faces de uma mesma moeda, que gira em velocidade cada vez mais alucinante.


Em As Bacantes O Oficina aborda as questões relativas ao destino da humanidade, as imagens unilaterais da vida em uma profusão de informação e sensações que nos excita, nos faz querer participar ao mesmo tempo que nos assusta pelo descontrole total que parece tomar conta do lugar.


Entretanto, nem tudo que parece transgressor contribui para nossa humanização. Há sempre uma ordem, mesmo que seja a ordem do caos. O bacanal pode parecer liberdade dos homem, ou até mesmo a busca do prazer... mas de que prazer ou liberdade falamos?


A credito que o papel do Teatro é a produção de catarse. Realmente o Teatro do Oficina afronta a ordem, ao mesmo tempo que a mantem. Produz sensações intensas que atravessas nossas certezas, corroem nossos sentidos, e produzem outras percepções. Vemos em cena bons atores em uma apresentação que segue uma ordem caótica, com picos de loucura. Temos também um texto que por vezes tem lugar central, e em outras momentos fica perdido em meio a dinâmica dionisíaca.








“A seus dois deuses da arte, Apolo e Dionísio, vincula-se a nossa cognição de que no mundo helênico existe uma enorme contraposição, quanto a origens e objetivos, entre a arte do figurador plástico [Bildner], a apolínea, e a arte não-figurada unbildlichen] da música, a de Dionísio: ambos os impulsos,tão diversos, caminham lado a lado, na maioria das vezes em discórdia aberta e incitando-se mutuamente a produções sempre novas, para perpetuar a luta daquela contraposição sobre a qual a palavra comum “arte” lançava apenas aparentemente a ponte; até que por fim, através de um miraculoso ato metafísico da “vontade” helênica, apareceram emparelhados um com o
outro, e nesse emparelhamento tanto a obra de arte dionisíaca quanto a
apolínea geraram a tragédia ática”

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