quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

alguns pontos lembrados sobre "Como Esquecer"


“ a vida imita a arte” figura entre os jargões ou frases clichês que mais gosto, digo isso porque ontem fui vê o filme “Como Esquecer”, mais um dos filmes do nosso tempo que abordam a relação entre memória, desta vez de maneira mais próxima do discurso nitiano da necessidade do esquecimento como algo positivo, que possibilita combater o recalque e do ressentimento. O não esquecimento nesse caso pode produzir couraças que impedem nossos afetos circularem livremente em nosso corpo.
É um bom filme, com um roteiro bonito, e com densidade para tratar de temas desafiadores. Quem nunca sofreu de amor, quem nunca sentiu vontade de esquecer tudo. Quando a dor é grande o desespero ganha a cena, quando a dor é forte as forças são levadas pela correnteza do rio que arrasta tudo. Júlia tem sua alegria ceifada pela dor do abandono, pela solidão de não ter a quem se ama, pelo desespero de ainda amar. Lembrar o que teve de bom é algo que nos faz quase tocar o passado. Essa porta aberta quando não devidamente tratada pode ser a abertura para pesadelos.

O sofrimento não é uma doença, mas algo que faz parte de nossa humanidade. O modo que sofremos, ou lidamos com o sofrimento é que vai se variar, segundo cada pessoa e cada circunstância. Não sentir que é um problema, uma disfunção. Não podemos fazer da memória do passado um altar ao sofrimento permanente, isso produz morte, pois o sofrimento passa pelo corpo, permanece, corporifica.
Há um fio invisível que nos liga a nossas experiência, mesmo que não saibamos ao certo. Não enganamos nosso corpo, nem nossos sentidos, fingimos não ver, não sentir, não nos importar, mas quando sentimos, vemos ou nos importamos nosso inconsciente registra tudo , nosso corpo tem cada mapa, cada experiência. Ter consciência do corpo é um passo importante para podermos responder melhor ao desafio de esquecer, mesmo sabendo que os registros ficam impressos em nós.

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