segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Carta da Morte


Os trinta anos que passaram levaram minha saúde
hoje me sinto velho, vencido.
os sonhos da juventude têm cada um um preço.
não movo esforços na direção da liberdade
não sou agente da ordem, nem da mudança.
são trinta anos, nem muito, nem pouco.
têm homens que vivem mais, e resistem, outros que logo sucumbem.
penso todos os dias na morte, e é tentadora sua presença.
tenho enorme curiosidade para saber o que há, mesmo que não haja nada.

Interpretações - Carta da Morte na cada 2

Tenho tido sonhos estranho, com vários encontros possíveis com a morte.
Talvez seja uma antecipação da imaginação, que resulta do medo, ou talvez seja apenas a curiosidade buscando desvendar essa força incontrolável.
Pensei na "bela morte", mas não sei se quero ser herói, e nem se posso...
Os gregos se preocupavam em levar vida que permitisse que a memória dos feitos de um homem pudesse ser fixada no tempo para nunca mais ser apagada.
Quero apenas uma vida... comum, e que dure o tempo necessário.
Quero uma vida plena de amores, e que eles possam surgir como as estações do ano, diferentes e igualmente importantes para a reprodução de nossa existência.
Quero dias de flores,
Dias de neve,
Dias de sol.
Muita Chuva para lavar a alma.
Amigos para tomar vinho.
E noites intermináveis de prazer.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

"O Mundo Mágico de Escher"

Estava no Centro cultural Banco do Brasil, tentando ver “A Lua Vem da Ásia", peça representada por Chico Diaz, e me deparei com a exposição do Escher.
Uma senhora de quase 70 ano me olha e diz:
- garoto, entra ali, fica em pé, vai você e outra pessoa pra gente poder olhar.
Era uma caixa incrível, um jogo de ilusão a partir da perspectiva. Formas incríveis por dentro e por fora.
Varias pessoas olhando as outras que entravam no jogo de ficar grande e pequeno. por fora as pessoas caiam em buracos inexistentes e registravam tudo em suas máquinas fotográficas. meu primeiro contato com o "ilusionista" holandês foi com a imagem de duas mãos que se faziam.

Senti-me parte da arte dele, interagindo com sua obra, meio como autor, meio objeto, assim como as duas mãos que se fazem...

Bacantes



Acredito no que vejo, e não vejo o que acredito. Poderia resumir nessa expressão a imagem apreendida no espetáculo “Bacantes”, entretanto não acreditamos que um fenômeno tão complexo, uma performance tão espiralada possa ser explicada por imagem tão simplificada.


Não gosto do Teatro Oficina, não gosto do que conheço(mais uma simplificação, pois são muitas obras e montagens), mas entendo seu papel, sua proposta e acho que produz ua experiência intensa de textura espessa . Em Bacantes a dualidade entre o mundo limpo e claro de Apolo e o mundo da orgia, farras e do sexo de Dionísio ganham vida. As simplificações estão na base dos mitos, e as religiões utilizam-nas em larga escala, nesse sentido a dualidade, o maniqueísmo são armas potente na manutenção da ordem, ou na instauração do caos. Os mundos claros e escuros são parte da mesma totalidade. Apolo e Dionísio são faces de uma mesma moeda, que gira em velocidade cada vez mais alucinante.


Em As Bacantes O Oficina aborda as questões relativas ao destino da humanidade, as imagens unilaterais da vida em uma profusão de informação e sensações que nos excita, nos faz querer participar ao mesmo tempo que nos assusta pelo descontrole total que parece tomar conta do lugar.


Entretanto, nem tudo que parece transgressor contribui para nossa humanização. Há sempre uma ordem, mesmo que seja a ordem do caos. O bacanal pode parecer liberdade dos homem, ou até mesmo a busca do prazer... mas de que prazer ou liberdade falamos?


A credito que o papel do Teatro é a produção de catarse. Realmente o Teatro do Oficina afronta a ordem, ao mesmo tempo que a mantem. Produz sensações intensas que atravessas nossas certezas, corroem nossos sentidos, e produzem outras percepções. Vemos em cena bons atores em uma apresentação que segue uma ordem caótica, com picos de loucura. Temos também um texto que por vezes tem lugar central, e em outras momentos fica perdido em meio a dinâmica dionisíaca.








“A seus dois deuses da arte, Apolo e Dionísio, vincula-se a nossa cognição de que no mundo helênico existe uma enorme contraposição, quanto a origens e objetivos, entre a arte do figurador plástico [Bildner], a apolínea, e a arte não-figurada unbildlichen] da música, a de Dionísio: ambos os impulsos,tão diversos, caminham lado a lado, na maioria das vezes em discórdia aberta e incitando-se mutuamente a produções sempre novas, para perpetuar a luta daquela contraposição sobre a qual a palavra comum “arte” lançava apenas aparentemente a ponte; até que por fim, através de um miraculoso ato metafísico da “vontade” helênica, apareceram emparelhados um com o
outro, e nesse emparelhamento tanto a obra de arte dionisíaca quanto a
apolínea geraram a tragédia ática”

alguns pontos lembrados sobre "Como Esquecer"


“ a vida imita a arte” figura entre os jargões ou frases clichês que mais gosto, digo isso porque ontem fui vê o filme “Como Esquecer”, mais um dos filmes do nosso tempo que abordam a relação entre memória, desta vez de maneira mais próxima do discurso nitiano da necessidade do esquecimento como algo positivo, que possibilita combater o recalque e do ressentimento. O não esquecimento nesse caso pode produzir couraças que impedem nossos afetos circularem livremente em nosso corpo.
É um bom filme, com um roteiro bonito, e com densidade para tratar de temas desafiadores. Quem nunca sofreu de amor, quem nunca sentiu vontade de esquecer tudo. Quando a dor é grande o desespero ganha a cena, quando a dor é forte as forças são levadas pela correnteza do rio que arrasta tudo. Júlia tem sua alegria ceifada pela dor do abandono, pela solidão de não ter a quem se ama, pelo desespero de ainda amar. Lembrar o que teve de bom é algo que nos faz quase tocar o passado. Essa porta aberta quando não devidamente tratada pode ser a abertura para pesadelos.

O sofrimento não é uma doença, mas algo que faz parte de nossa humanidade. O modo que sofremos, ou lidamos com o sofrimento é que vai se variar, segundo cada pessoa e cada circunstância. Não sentir que é um problema, uma disfunção. Não podemos fazer da memória do passado um altar ao sofrimento permanente, isso produz morte, pois o sofrimento passa pelo corpo, permanece, corporifica.
Há um fio invisível que nos liga a nossas experiência, mesmo que não saibamos ao certo. Não enganamos nosso corpo, nem nossos sentidos, fingimos não ver, não sentir, não nos importar, mas quando sentimos, vemos ou nos importamos nosso inconsciente registra tudo , nosso corpo tem cada mapa, cada experiência. Ter consciência do corpo é um passo importante para podermos responder melhor ao desafio de esquecer, mesmo sabendo que os registros ficam impressos em nós.

Poesia é como Pão ( Mardonio Barros)


Poesia é como pão.
Pra fazer da trabalho(bom trabalho)
pra comer da prazer
poesia ruim é indigesta, pão também
quando a gente abandona o pão ele fica duro
a poesia abandonada endurece o poeta
mas é só escrever, praticar que a poesia renova-se
Poesia é como pão da Eucaristia que nos conecta com Deus e com a humanidade.
Poesia tem aroma bom de pão fresco...

Poesia é como pão que mata a fome dos que desejam mais da vida.