sábado, 24 de março de 2012

Volta e meia encontramos coisas bem filmadas e com densidade. Shame é um belo filme, mas duro. Steve McQueen acertou mão. tratou de sexo e sexualidade sem ser pornográfico, dando a dimensão certa para a questão. Imagens lindas, diretas e com a capacidade plástica de expressas força e beleza para cada cena. Adorei o tema,encontrei-me na solidão de seu personagem, na descrença em relação ao amor romântico e em sua visão que sinaliza a existência de um processo de corrosão que devora as relações humanas e estabelece novos marcos no mundo contemporâneo.

O filme é muito direto e com intensão bem clara de causas sensações fortes. A aridez do personagem é reforçada pela opção estética do diretor. Ao sair do cinema as pessoas diziam: "que filme horrível", 'muta dureza". "que cara frio!". “pensei que ia ter senas mais quentes”. A proposta apresentada causa constrangimento, pois cutuca nossas feridas e desnuda nossas certezas. Ele aborda questões urgentes, sem ser panfletário. Muita gente achava que era um filme de sacanagem, mas o sexo em nenhum momento foi explorado de forma pornográfica, pois ele era um dos elementos centrais...

Adorei a densidade e complexidades dada aos personagem, mesmo os que tinham uma duração momentânea tinham uma localização bem precisa na trama. Muitas questões e camadas iam sendo colocadas, mesmo o personagem sendo extremamente silencioso. Em uma dos diálogos, um dos poucos que Brandon estabelece durante todo o filme, ele discute, com uma "paquera", sobre o valor das relações. Ele diz que não acredita em casamento, em relacionamentos... diante disso, sua interlocutora o interpela, dizendo: " se não nos importamos um com outro, o que fazemos aqui? porque saímos? Ele fica atônito, logo em seguida tenta justificar falando do fracasso dos casamentos.

O drama de Brando não é único, e nem pode ser visto de forma isolado, ou como um problema individual, pois ele é parte de um processo de aprofundamento da nossa individualidade dentro de uma proposta de subjetividade que está fundada no consumo, na busca da satisfação pessoal e no egoísmo. Essa lógica tem várias faces e produz impactos de grande monta. Essa nova forma de pensar sentir e ser produz e é produzida pelos seguintes fatores e elementos: 1) altera profundamente as relações sociais e afetivas; 2) é a expressão mais radical do que nós chamamos de alienação; 3) configura-se como o que costumo chamar da "morte da empatia", que nada mais é do que a alienação da espécie.

esses são alguns dos elementos que podemos encontrar no filme, ou que podemos pensar sobre o padrão civilizatório que estamos imprimindo para o mundo.

para ilustrar:

Lembrei de uma conversa, com uma menina com a qual eu estava saindo, na qual ela me falou: “não me envolvo” eu prontamente disparei: " eu sim. Posso não estabelecer um relacionamento tradicional, mas mesmo que fosse profissional dos sexo eu teria que me envolver"

Acho que eu repensaria essa resposta, não na minha crença, mas eu pensaria que há pessoas que são incapazes de se relacionar com outras, pois a lógica hedonista não possibilista pensar para além do próprio prazer.

Voltando sem ter ido para finalizar:

Shame é um dos filmes mais interessantes que vi nesse últimos seis meses. A qualidade principal desse produção é sua grande capacidade de tratar de um tema tão complexo, sem construir caricaturas da realidade...Bom filme!

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